Folhas perdidas

Friday, October 13, 2006

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava!
Acreditava,
porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os teus olhos eram peixes verdes.
Hoje são apenas os teus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...
já não se passa absolutamente nada.
E, no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos nada que dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.

Eugénio de Andrade

Thursday, October 05, 2006

Quem fala assim não é gago...

Cícero, exímio orador, legou-nos uma magnífica obra que nos faz reflectir sobre a beleza da vida e as suas consequentes adversidades.
Aqui deixo uma pitadinha:

"Quem afasta a amizade da vida parece que arranca o sol do mundo, pois os deuses imortais não nos deram nada melhor nem mais doce."
Cícero, Acerca da Amizade

Wednesday, October 04, 2006

....

É recordando os velhos tempos que damos conta que a vida passa, mas as verdadeiras amizades permanecem.
Folhas perdidas é um retorno ao passado, aos sorrisos, às lágrimas, a vivências que jamais serão esquecidas...
Mas é acima de tudo símbolo da realização de um presente e futuro mútuos. É a celebração do carinho, da atenção, da dedicação, da sensibilidade.
O meu primeiro post vai para a pessoa que esteve sempre presente nos meus dias cinzentos, que me fez sorrir durante o meu percurso e que criou este blog...
Um beigo grande para ti Verinha. Adoro-te...

Sinto-Te em Mim
Pequena gota,
Gotícula de chuva...
Vejo o teu olhar
Esse cristalino e triste
Olhar
Castanho.
Hoje vi-Te...

Vi-Te em Mim
E Tu correste
Correste sem Fim
No entanto,
Eu ouvi-Te.
Ouvi o Teu pulsar, mas Tu
Fugiste de Mim
e contigo levaste
Esse teu escarlate
Amar.

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Foto de Man Ray

Tuesday, October 03, 2006

Há muitos anos atrás algumas amigas escreviam palavras perdidas em folhas hoje esquecidas.
É recordando esse tempo que surgiu a ideia de criar um blog onde podemos, entre as mais variadas coisas, expor sentimentos e poemas já conhecidos... Como é óbvio o nome dado a este cantinho é baseado nesses rascunhos onde riscavamos palavras íntimas, que tantas vezes nos fizeram rejubilar, rir, chorar...
Espero que este pequeno espaço se torne um lugar amplo onde possamos disfrutar do intenso calor das palavras.
Um beijinho,
Vera.